Carlos Esperança
8 h
Salazar – 29 de julho de 1970
O País não era apenas o offshore da sanidade mental, era a apoteose do ridículo ao nível do aparelho de Estado.
Portugal suportou a mais longa ditadura europeia, a mais inútil e injusta guerra colonial, a maior fuga em massa à miséria, para a Europa, enquanto o ditador e os seus cúmplices usavam a censura implacável, prisões sem culpa formada, tortura de presos, julgamentos nos Tribunais Plenários e todas as vilezas em que as ditaduras são férteis.
Julgou-se que o caruncho, no seu incansável labor, tendo corroído uma cadeira, acabaria com décadas de ignorância, fome, atraso civilizacional, analfabetismo, decadência ética, guerra colonial e isolamento internacional, conduzindo à queda do ditador e da ditadura. Puro engano! Marcelo foi apenas o seguidor que ensaiou a continuação da ditadura com rosto humano. Foi o MFA que derrubou o ditador e a mais longa ditadura europeia.
O fim da ditadura e o heroísmo dos Militares de Abril, por mais azia e ranger de dentes que ainda despertem em meios reacionários, aconteceram. E, disso, todos sabem.
Mas é o ridículo, que dificilmente algo sublinharia melhor do que a foto que aqui deixo, que me levou a escrever este texto para gáudio dos leitores. Ninguém ficará indiferente à foto. Documenta o velório de Salazar, abrilhantado por Gabriel Monjane, o Gigante de Manjacaze, um negro moçambicano cuja desregulação hormonal o fizera crescer até aos 2,45 metros, com os horríveis padecimentos do gigantismo, e o anão de Arcozelo, o seu parceiro do circo que os exibia como “o homem mais alto do mundo e o mais baixo”.
Quem terá requisitado ao circo os dois infelizes para as cerimónias fúnebres de Salazar?
O SNI, a União Nacional, a Legião, a Pide, o ministro do Interior? Ignoro a origem da adjudicação que transformou a cerimónia fúnebre num espetáculo de circo. O ditador, em início de defunção, merecia uma sonora gargalhada de alívio. Mas a Pide estava lá, a guardar o morto que não fugia.
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Antonio Campos
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