quarta-feira, setembro 23, 2009

Dissertando sobre topónimos

Odemira, Odesseixe, Odiáxere, Odeleite, Odivelas e Odiana, porque não?
No séulo XIV, D. Fernando mandou fazer o senso de todas as vilas existente "antre Tejo e Odiana" (sic, vidè José Matoso).
Todos estes topónimos tem como característica comum estarem associados a rios e apresentarem na sua composição o elemento "ODE".
Tenho visto diversas versões para explicar o aparecimento deste elemento, sendo o mais frequente a sua relação com o "Wed", árabe, (leito do rio que, na época seca, serve de caminho).
Não esquecendo o valioso contributo dos árabes para a formação da nossa cultura durante a sua permanência e domínio sobre a Península Ibérica, (cerca de 700 anos, mais do que os colonos europeus permaneceram nas áfricas, índias e américas), certo é que também os povos autóctones deram muita coisa à cultura árabe, até e sobretudo palavras que ainda hoje são foneticamente comuns.
Uma dessas palavras é precisamente, em meu entender, o "WED", que terá sido um enriquecimento para o léxico árabe, levado precisamente da Península e mais concretamente do sul de Portugal, (terra de laranjas, para os árabes).
Os topónimos começados por ODE são anteriores à ocupação árabe e eles são de origem grega: são conhecidos dos arqueólogos os vestígios da presença grega e fenícia, nomeadamente nos sítios próximos da foz de rios e margens dos mesmos. A cultura grega dominou o Mediterrâneo e extravasou por todo o Império Romano nos séculos que se seguiram ao domínio Grego.
O elemento ODE deriva do grego "òdós-ou"(nominativo e genitivo), e significa "caminho".
Os rios foram os "caminhos" que permitiram o acesso ao "interland" habitado por povos que os navegadores gregos e fenícios pretendiam contactar para comerciar os seus produtos.
Em favor do meu argumento invoco este facto: no Andaluz, onde os árabes marcaram presença mais intensa e duradoura, os rios não são "ode", mas sim "gua", (veja-se guadalquivir, guadalete, guadarrama, guadix, guadalupe, etc, e até o nosso "Odiana" tomou o nome de Guadiana, isto é, este grande rio fazia fronteira física e cultural/linguística entre duas regiões distintas, a Tartéssia/Andaluz e Portugal). Sim Portugal, porque este já existia no tempo da ocupação árabe.
Quando for possível decifrar os documentos arqueológicos encontrados na regiões de Almodovar, Sines e Vila do Bispo, certamente far-se-á alguma luz sobre este assunto.
Por isso mesmo Afonso Henriques só é reconhecido como rei de Portugal, depois da célebre e tão maltratada batalha de Ourique. Por isso ele é antes de mais o Conquistador e só depois o Fundador da nacionalidade Portuguesa.
O Portus-Cale é uma balela dos frades do século XVI e XVII, para fazer esquecer a ascendência árabe cujos vestígios foram sumariamente apagados.
Voltando ainda ao "ODE", é muito curiosa a associação que não pode deixar de ser feita às composições poéticas, "Odes de Horácio", (canções às ribeiras/rios/caminhos?), que, por analogia, e contágio terão dado origem no renascimento às canções do Lima de Filinto Elísio e mais tarde inspirado o nosso Bernardim Ribeiro, que cantou o Mondego e o Sado.
Tudo isto tem uma expressão muito concreta no folclore português, nomeadamente alentejano com as canções chamadas ribeiras: "A ribeira quando enche, vai de pedrinha em pedrinha......, dedicada ao Odiana, (Guadiana), e Rio Mira vai cheio e a barca não anda, tenho o meu amor lá da outra banda... dedicada ao Rio Mira e sua barca".
Vale a pena lembrar ainda, por estarem na mesma linha de criação popular, as "Saias", canções típicas do alto alentejo.
Dentro desta linha de raciocínio, podemos concluir que Odemira=canção do Mira, Odesseixe=canção do Seixe, Odiáxere=canção do Áxere, etc...

1 comentário:

jrcontreiras1@hotmail.com disse...

Interessante este teu post sobre a origem do nome "ODEMIRA".
Não me irei pronunciar sobre a sua veracidade porque,embora tenha lido alguma coisa sobre o assunto todas elas diferentes,mas com alguns pontos comuns.

Dou-te os meus sinceros parabéns pelo teu excelente trabalho. Era aqui que os "saudosistas" da velha "Academia de S. Sezenando" poderiam dar o seu contributo.
As academias tiveram o seu tempo e agora os blogues são uma porta aberta a todos os que desejam participar enriquecendo a Democracia com as suas opiniões e,óbviamente,a nossa Cultura.

Como te disse continuarei a dar a minha participação e convido todos os Ex.seminaristas a fazerem o mesmo,será uma maneira interessante de continuarem a expôr as suas ideias.